Os navios autônomos envolvem custos mais altos de investimento para a construção, em tecnologia e segurança cibernética, mas, por outro lado, não têm tripulação e são construídos sem alojamentos.
O século 21 é marcado pelo avanço tecnológico. Nos últimos anos, o desenvolvimento da tecnologia, a automação dos navios e a segurança cibernética são temas centrais das discussões e preocupações no setor shipping. Atualmente, quase todos os navios são automatizados de alguma forma e os processos organizacionais passam a depender ainda mais dos meios digitais.
No entanto, a revolução do transporte marítimo 4.0 introduz no mercado navios autônomos, não tripulados. No setor, muitos fatores têm sido apontados a favor da adoção de navios autônomos. Dentre os principais, tem se destacado a economia e eficiência, gestão de custos e riscos, estratégias de boas práticas de ESG, segurança da navegação, sustentabilidade e descarbonização.
Considerando os fatores econômicos e estratégicos, observam-se os impactos tanto na fase de investimento inicial, de construção e equipamentos, como os custos operacionais posteriores, que envolvem a gestão e exploração econômica do navio para transporte de mercadorias.
Comparando os custos de construção, em tese, os navios autônomos envolvem custos mais altos de investimento para a construção, em tecnologia e segurança cibernética, mas, por outro lado, não têm tripulação e são construídos sem alojamentos e espaços físicos necessários à manutenção das vidas a bordo. Desta forma, oferecem mais espaço para o transporte de cargas.
Em determinados tipos de navios, o designer poderá reduzir significativamente o custo de construção e manutenção, além de aumentar a vida útil dos navios. Tais mudanças estruturais, não só reduzem os custos que impactam no preço do frete, na lucratividade e na competitividade das empresas de navegação, mas tornam determinados tipos de navios mais leves resultando, portanto, em economia de combustível e de emissão de CO2. Alguns projetos de navios autônomos são elétricos, abandonando progressivamente a utilização de combustíveis fósseis na indústria shipping. No contexto das boas práticas de ESG, tem se considerado que investimentos em frotas de navios autônomos atendem, de forma mais adequada, as diretrizes de sustentabilidade e as metas de descarbonização.
Dentre os custos operacionais, os principais fatores que têm sido apontados a favor de navios autônomos se referem a redução ou eliminação de custos trabalhistas, de provisionamento e outros custos necessários à vida a bordo. Muitos especialistas apontam que a eliminação de elemento humano a bordo resultará no aumento da segurança da navegação e diminuição dos riscos de pirataria. Alguns dados divulgados pelos armadores e P&I Clubs vêm revelando que de 64 a 96% dos acidentes marítimos envolvem, direta ou indiretamente, erro humano.
Apesar das vantagens que têm sido apontadas, há que se considerar que a introdução de navios autônomos no ecossistema marinho implica em mudanças fundamentais nas legislações e nos procedimentos de interação entre o navio e os outros navios, os portos e as autoridades marítimas. Há muitas questões que precisam ser avaliadas, principalmente com relação as responsabilidades por avarias e acidentes. Ademais, um dos principais obstáculos para implementação a curto prazo é a cibersegurança, os riscos cibernéticos marítimos. Nos últimos anos, algumas empresas foram atingidas por ciberataques, mostrando à comunidade marítima que o setor shipping, cada vez mais dependente da tecnologia, ainda é vulnerável.
Na realidade, um dos maiores desafios da indústria shipping 4.0 é implementar estratégias de gestão de risco cibernético para identificar, analisar, avaliar os riscos e tentar evitá-lo ou mitigá-lo a um nível aceitável. A era dos navios autônomos, dos navios 4.0, parece ser uma tendência irreversível, mas a substituição de frotas tripuladas por navios autônomos não será imediata, e sim gradual e evolutiva.